Reino Metazoa: Filo Platyhelminthes

No contexto do amplo e diversificado conjunto de seres vivos compreendido pelos metazoários, deve-se enaltecer a presença do filo Platyhelminthes (do grego platy: "chato", e helmintos: "verme"), um dos mais antigos, e indubitavelmente um dos mais relevantes, subgrupos contidos pelo Reino Metazoa. De fato, o desenvolvimento dos vermes achatados esteve ligado ao surgimento de numerosas novidades evolutivas fundamentais para a origem de grande parte dos metazoários presentes na atual biosfera, o que evidencia a grande importância dos platelmintos para a vida na Terra. Na presente postagem, seguem algumas das principais características dos platelmintos, bem como suas formas de reprodução, origens evolutivas prováveis, importância e outros. Bom proveito.

Platelmintos: origens evolutivas e características gerais

Dentro da comunidade científica, diferentes teorias já foram desenvolvidas para explicar a origem dos metazoários e dos filos a eles ligados, incluindo-se o filo Platyhelminthes. Nesse contexto, optou-se, na presente postagem, por abordas duas hipóteses distintas acerca do surgimento dos platelmintos, alinhadas a diferentes percepções sobre a gênese dos metazoários:

  1. Partindo da linha argumentativa definida pela Teoria Colonial (atualmente a hipótese com maior aceitação na comunidade científica acerca do surgimento dos animais), os platelmintos evoluíram dos cnidários ou celenterados, segundo grupo de seres mais antigo dentro do Reino Metazoa. Nesse contexto, cabe afirmar que, provavelmente, a exposição de medusas a ambientes aquáticos com maiores pressões pode ter provocado, ao longo do tempo, a supressão da cavidade interna dos celenterados, em um processo no qual originaram-se seres vivos achatados e rastejantes. Tais seres, no caso, constituíam-se nos ancestrais dos atuais platelmintos, sendo responsáveis, portanto, pelo surgimento do filo Platyhelminthes e de outros filos derivados dos "vermes achatados".
  2. De acordo com a Teoria Sincicial, os platelmintos constituir-se-iam, de fato, nos primeiros metazoários a surgirem no planeta, a partir de protozoários multinucleados, ciliados e com hábito rastejante. Nesse contexto, uma eventual divisão dos núcleos em tais protoctistas (através da formação de membranas internas), seguida pela formação de uma ectoderma e uma mesoderma, teria originado os ancestrais (acelomados) dos platelmintos e de todos os outros metazoários. É importante afirmar, no entanto, que a Teoria Sincicial possui, atualmente, menor aceitação pela comunidade científica em geral, devido à sua insuficiência para explicar a origem dos poríferos. Observe abaixo um esquema representando a Teoria Sincicial.
Figura 1: Esquema representando o surgimento dos primeiros metazoários a partir de um protozoário multicelular ciliado, de acordo com a Teoria Sincicial. Disponível em: http://www.biologydiscussion.com/invertebrate-zoology/metazoa/top-6-theories-regarding-the-origin-of-metazoa/33811. Acesso em 22 de junho de 2019

Dentro do contexto do surgimento dos metazoários, os platelmintos destacam-se ao possuírem relevantes novidades evolutivas fundamentais para o surgimento da maior parte dos animais presentes na biosfera atual. Entre tais inovações, deve-se destacar, indubitavelmente, a organização triblástica acelomada: pela primeira vez na história da vida no planeta, um metazoário apresentou, em sua fase de gástrula, 3 folhetos embrionários (mesoderma, além da endoderma e da ectoderma), no caso, em organização praticamente maciça (sem a presença de um celoma). Cabe-se ressaltar também que tal característica representou um grande salto evolutivo no surgimento do filo Platyhelminthes, uma vez que a mesoderma (novo folheto embrionário), ao originar células musculares de fato, permitiu (juntamente com outras características) a formação de seres vivos com movimentos coordenados e organizados.
Figura 2: representação ilustrada da gástrula de um platelminto (verme acelomado). Observe que não ocorre presença de uma cavidade entre os 3 folhetos embrionários, o quBe acarreta a formação de uma estrutura praticamente maciça (excetuando-se a cavidade digestória). Imagem disponível em: https://br.pinterest.com/pin/97320041919929204/. Acesso em 22 de junho de 2019.

O conjunto de seres vivos denominados como platelmintos também possui outras notáveis características em comum, entre as quais optou-se por citar:
  1. Simetria bilateral, ligada a maior capacidade de movimento e coordenação dos vermes achatados;
  2. Organização corporal com uma parte anterior (na qual estão concentradas as células nervosas e estruturas sensoriais) e uma posterior, o que também favorece o movimento direcionado;
  3. Sistema nervoso ganglionar, marcado, entre outros, pela presença de dois eixos nervosos longitudinais responsáveis pela integração da rede nervosa no corpo do platelminto. No caso, a concentração dos neurônios em gânglios na parte anterior torna o sistema nervoso dos platelmintos mais avançado que a rede difusa característica dos cnidários, além de possibilitar uma melhor coordenação dos movimentos do organismo;
  4. Sistema digestório incompleto, marcado pela presença de uma boca, faringe (estrutura ligada à captura de alimento) e de uma cavidade gastro-vascular;
  5. Ausência de um sistema cardiovascular, sendo o transporte de substâncias efetivado através de uma cavidade gastro-vascular (que se estende pela maior parte do corpo do verme);
  6. Presença de um tecido muscular de fato, originado pela mesoderma e atrelado à maior capacidade de movimento dos platelmintos;
  7. Presença de estruturas excretoras denominadas protonefrídios, constituídos por células-flama ou solenócitos, através das quais realiza-se a eliminação de excretas (sobretudo dos músculos), principalmente a amônia e derivados, diluídas em água.
    Figura 3: Ilustração de um protonefrídio, com destaque para a célula-flama ou solenócito. Disponível em: https://nossomeioporinteiro.wordpress.com/2011/11/28/platelmintos/. Acesso em 22 de junho de 2019.

  8. Ausência de um sistema respiratório de fato,  sendo as trocas gasosas realizadas na camada externa dos vermes achatados;
  9. Presença de estruturas fotossensíveis denominadas ocelos, capazes de indicar a presença de luz, como também sua direção (não há formação de imagens);
  10. Geralmente os platelmintos são monoicos (hermafroditas), ou seja, cada indivíduo possui, na maior parte dos casos, os sistemas reprodutivos tanto masculino quanto feminino.
Observe, na figura abaixo, uma representação esquematizada de um platelminto, na qual se encontram evidenciadas suas principais estruturas:
Figura 4: representação esquematizada de uma planária, bem como de seus principais constituintes. Disponível em: https://www.slideshare.net/dinabcarvalho/platelmintos-3-1. Acesso em 22 de junho de 2019.


Os platelmintos podem, ainda, ser divididos em diferentes grupos, conforme as suas características. Observe a tabela abaixo, que contém as principais subdivisões presentes no filo Platyhelminthes:


Platelmintos: processos reprodutivos

Dividem-se em processos sexuados ou assexuados, conforme se pode ver abaixo:
  • Reprodução assexuada: muito comum em planárias e outros vermes achatados de vida livre, geralmente ocorre através de uma partição (divisão) sucedida por uma regeneração das partes divididas, em um processo pelo qual geram-se descendentes geneticamente iguais a seu progenitor. O processo de partição também evidencia a grande capacidade regenerativa das planárias e de outros platelmintos. Observe a figura abaixo:
Figura 5: esquema representativo da reprodução por partição em planárias. Disponível em: https://asdfkk.files.wordpress.com/2012/09/regeneracao_das_planarias.jpg. Acesso em 22 de junho de 2019.

  • Reprodução sexuada: como a maior parte dos integrantes do filo Platyhelminthes é monoica, a reprodução sexuada pode ocorrer através de dois processos principais: a fecundação cruzada, envolvendo 2 indivíduos distintos e obrigatória para os raros platelmintos dioicos, e a autofecundação, exclusiva de organismos monoicos. Ademais, o desenvolvimento do embrião pode ser classificado em direto, quando não há formação de um estágio larval, e indireto, caracterizado pela presença da fase de larva (mais comum em parasitas).
Platelmintos: importância

Ao constituírem um dos primeiros grupos de metazoários a surgirem no planeta, os vermes achatados estão ligados a um conjunto de novidades evolutivas que, conforme mostrado anteriormente, desempenharam um papel fundamental para o desenvolvimento dos animais (e também da biosfera como um todo) como os vemos na atualidade. Além disso, os platelmintos atuam de forma decisiva nos mais variados ecossistemas presentes no mundo, sendo capazes, inclusive, de afetar profundamente o funcionamento de toda uma comunidade de seres vivos, como se pode ver na reportagem em https://noticiaalternativa.com.br/platelmintos/
No tocante as interações entre platelmintos e seres humanos, cabe-se destacar sobremaneira o fato de que alguns vermes achatados, destacando-se as tênias e os esquitossomos, estabelecem relações de parasitismo com o Homo sapiens sapiens, acarretando em relevantes prejuízos de ordem pública na área da saúde. Veja, nas imagens abaixo, os ciclos de vida de ambos os vermes:












Figura 6: de cima para baixo, esquemas contendo os ciclos da teníase e esquistossomose, doenças causadas no ser  humano por platelmintos. Disponível em: https://image.slidesharecdn.com/seminarioesquistossomose-131108134756-phpapp02/95/esquistossomose-mansnica-4-638.jpg?cb=1383918555. Acesso em 22 de junho de 2019.



Referências bibliográficas:

Texto Filo platyhelminthes, distribuído em sala de aula pelo excelentíssimo professor Paim.
Conteúdos trabalhados em aula pelo excelentíssimo professor Paim.
FAVARETTO, J.A. Biologia: unidade e diversidade 2. São Paulo, 2016: Editora FTD

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