Fungos: uma visão geral

No contexto da classificação taxonômica dos seres vivos, o Reino Fungi compreende (em termos ecológicos) um dos conjuntos de organismos com maior importância para a manutenção dos ecossistemas ao redor do mundo, dada a função decompositora exercida pela grande maioria dos fungos. Dessa forma, os integrantes do Reino Fungi desempenham um importantíssimo papel ao permitirem o retorno de sais minerais e outros nutrientes ao ambiente (através da decomposição, em geral, de seres já mortos), sendo responsáveis pela manutenção da oferta de nutrientes nos mais diversos ecossistemas. Vejamos, na presente postagem, algumas das características mais marcantes dos fungos, em toda a diversidade e importância compreendida por esse reino.

Reino Fungi: características gerais

O grupo compreendido pelos fungos apresenta uma série de características plesiomórficas (considerando-se estritamente o Reino Fungi), apresentadas por todos os integrantes desse conjunto. Entre os principais caracteres que permitem a identificação dos fungos, optou-se por dispor-se, nessa postagem, os aspectos listados abaixo:
  1. Dieta heterotrófica por absorção: A digestão dos fungos ocorre no ambiente extracelular e extracorpóreo (no caso de fungos pluricelulares), através da secreção de enzimas (e outros compostos) digestivas e da absorção dos produtos do processo de digestão. Todos os fungos classificam-se como heterótrofos, sendo predominantes aqueles que apresentam dieta saprofágica (apesar da existência de grupos parasitários ou que estabelecem relações de mutualismo com outros seres vivos).
  2. Eucariontes, podendo ser unicelulares ou pluricelulares: Entre os unicelulares, destacam-se as leveduras (gênero Saccharomyces), aeróbicos facultativos que podem viver em colônias. No grupo dos pluricelulares, comumente ganham maior atenção dos leigos os cogumelos (basidiomicetos), dentre os quais muitos são comestíveis.
  3. Presença de hifas: Componentes fundamentais para a composição estrutural de fungos pluricelulares, as hifas dão aspecto filamentoso ao corpo do fungo e podem ser classificadas em cenocíticas (quando nela existem diversos núcleos distintos inseridos em um mesmo corpo citoplasmático) ou septadas (quando ocorre a separação dos núcleos em diferentes corpos citoplasmáticos, com a consequente formação de células separadas).
    Imagem representando, esquematicamente, hifas cenocíticas e septadas. Disponível em: https://www.sobiologia.com.br/conteudos/Reinos/biofungos2.php. Acesso em 21 de abril de 2019.
  4. Organização centrada em uma estrutura denominada micélio: Os fungos não constituem tecidos verdadeiros, apresentando no micélio (conjunto de hifas) sua principal base estrutural. Tal micélio, no caso, pode ser vegetativo (responsável pela obtenção de nutrientes e geralmente fixado a algum substrato) ou reprodutivo (ligado à produção e dispersão de esporos, como também à formação do corpo de frutificação).
  5. Presença de quitina na parede celular: A quitina é um polissacarídeo também comum nos integrantes do Reino Metazoa, o que indica o possível vínculo evolutivo entre fungos e animais.
  6. Reprodução por meio de esporos: de forma geral, os esporos são as principais estruturas pelas quais ocorre a reprodução e dispersão dos fungos nos mais diversos habitats. Tais esporos, no caso, podem ser monoflagelados (no caso dos quitridiomicetos) ou aflagelados (para os demais filos).
Reino Fungi: classificação

Apesar de apresentarem uma série de característica em comum, os fungos podem apresentar, entre si, grandes diferenças, tanto quanto à sua organização quanto a suas formas de reprodução, entre outros fatores. Surge, portanto, a necessidade de se classificar os integrantes do Reino Fungi em diferentes filos, de acordo com os aspectos neles presentes. Segue, abaixo, um cladograma contendo as principais subdivisões dentro do Reino Fungi, acompanhado por uma breve descrição:
Link na própria imagem. Acesso em 21/04/2018
 Quitridiomicetos: grupo mais primitivo, destaca-se por apresentar esporos monoflagelados em parte de seu ciclo reprodutivo. Geralmente vive próximo a rios, lagos e outros corpos de água. A presença de esporos flagelados e outras características dos quitridiomicetos podem indicar uma possível proximidade filogenética com o Reino Protoctista.
 Zigomicetos: Dotados de um ciclo reprodutivo (em alguns casos) caracterizado pela metagênese (com uma fase sexuada e outra assexuada), os zigomicetos distribuem-se abundantemente no mundo em que vivemos, podendo ser decompositores ou parasitários. Entre os zigomicetos, destaca-se o bolor do pão (gênero Rizophus).
 Ascomicetos: grupo com maior número de espécies identificadas e documentadas, destaca-se por apresentar, em seu micélio reprodutivo, uma estrutura similar a um saco, na qual estão contidos os ascos. Em cada asco, ocorre a meiose de um núcleo diploide (gerado pela cariogamia), que, sucedida por uma mitose, origina 8 esporos, denominados ascóporos.
 Basidiomicetos: diferentemente dos ascomicetos, apresentam, em seu corpo de frutificação, estruturas denominadas basídios, nas quais são formadas 4 esporos, os basidiósporos. Tal diferença, no caso, se dá pelo fato de que a mitose presente na esporogênese dos ascomicetos não ocorre com os basidiomicetos. Entre os componentes desse filo, destacam-se os cogumelos.

Reino Fungi: reprodução

Assim como em outros reinos, os processos de reprodução entre os fungos podem ser divididos em dois grupos principais, conforme suas características:
  • Assexuada: Ocorre sobretudo através da fragmentação (no caso de fungos pluricelulares), brotamento (sobretudo para as espécies do gênero Saccharomyces) ou esporulação (formação de esporos sem ocorrência de contato sexuado), entre outros processos reprodutivos.
    Imagens representando os processos de reprodução assexuada em fungos por fragmentação, brotamento e esporulação. Figuras disponíveis no Google Images. Acesso em 21 de abril de 2019.
  • Sexuada: Ocorre através da união entre hifas + e - (sexualmente compatíveis) através da plasmogamia, processo no qual os diferentes núcleos são, ao menos temporariamente, preservados. Posteriormente, ocorre a formação de um micélio reprodutivo, no qual eventualmente os núcleos haploides fundem-se (cariogamia), originando um núcleo haploide que, ao sofrer a meiose, gera esporos haploides. Tais esporos, ao germinarem, darão origem a mais hifas + e -, reiniciando-se o ciclo.
    Figura representando esquematicamente o processo de reprodução sexuada em um fungo basidiomiceto. Disponível em: Google Images. Acesso em 21 de abril de 2019.
  • Metagênese: Processo reprodutivo que envolve uma etapa sexuada e outra assexuada. É um processo característico, por exemplo, dos fungos do gênero Rhizopus, cujo ciclo reprodutivo se encontra esquematizado pela figura abaixo:
    Disponível em: Google images. Acesso em 21 de abril de 2019.
Fungos: importância ecológica e econômica

Enquanto seres saprofágicos, os fungos desempenham um importantíssimo papel para a manutenção de uma oferta constante de sais minerais e outros nutrientes nos mais diversos ecossistemas, uma vez que atuam decompondo a matéria orgânica, num processo em que os compostos retirados (direta ou indiretamente) pelo organismo em decomposição do ambiente ao seu redor retornam ao último. Os fungos, portanto, têm importante função no ciclo de alimentos e nutrientes nos ecossistemas em que se inserem.
Além disso, muitos fungos desenvolvem relações simbióticas com outros seres vivos, destacando-se os vínculos de mutualismo ou parasitismo. Como exemplos do primeiro caso, destacam-se os líquens (ver https://bioninjas.blogspot.com/2019/03/protoctistas-nao-patogenicos-as-algas.html) e as micorrizas (de mico: fungo, e riza: raízes), decorrentes da cooperação entre fungos e raízes de vegetais. Os casos de parasitismo dividem-se em dois grupos: micoses, quando o hospedeiro for um animal, e ferrugens ou carvões, quando o alvo for um vegetal.
Ainda tratando de relações parasitárias, destacam-se os fungos que entram em formigas e outros isetos, controlando o seu sistema nervoso e escravizando-as, como pode ser visto no link http://segundocientista.blogspot.com/2016/05/incrivel-fungo-ataca-e-escraviza-insetos.html.
Por fim, muitos fungos são de grande importância para os seres humanos: as leveduras (gênero Saccharomyces) desempenham importante papel econômico ao entrarem nos processos de produção de bebidas alcólicas e como fermento biológico de pães e outros; os fungos do gênero Penicillium são essenciais para o desenvolvimento de alguns antibióticos, de grande valor no combate a doenças provocadas por bactérias; muitos fungos são comestíveis, compondo parte da gastronomia humana.
Percebe-se, portanto, a importância do Reino Fungi tanto em nossas vidas quanto para a biosfera.

Referências Bibliográficas:

Conteúdos trabalhados em aula pelo digníssimo professor Paim.

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